O povo comenta, o povo reclama da megalópole. Diz que é dura, injusta, violenta. Diz tudo isso sem se dar conta que São Paulo, essa esfinge, é feita de gente. É feita de nós.
As veias são as vias. Aquelas onde os motoristas berram, ultrapassam, avançam limites. Ou, em um bom dia, liberam a passagem, controlam a pressão. Evitam entupimentos, infartos, infrações.
O sangue é pura transfusão. Tem negro, índio, europeu, asiático, sírio, judeu, nordestino, sulista, nortista, príncipe e plebeu. Um sangue multi-reagente, às vezes positivo, às vezes negativo, quase sempre universal.
O coração é quente, grande e não me venham falar do centro. O coração é espalhado em milhões de pedacinhos, em tudo quanto é canto, mosaico de gente quando resolve ser do bem (em vez de se dar bem).
Se falar do pulmão é citar o parque, esse ou aquele, tá pouco informado. A respiração vem é de quem inspira. Ou transpira. De quem faz foto, síntese e, se precisar, inalação.
Tem outros órgãos vitais também. Bocas que cantam, ouvidos para ouvi-las e, como não? As mãos que apalpam e acariciam. Umas por amor, outras por dinheiro, outras porque ainda estão tateando o que procuram.
A cidade é gente. E a gente somos nós. A sujeira tá no rio e a clareza tá no riso. O estômago de um lado é bem tratado, do outro revirado. São Paulo? É osso viver, mas a gente se segura. Esfola a pele, arranca os cabelos, fica de pé na fila e não perde a compostura.
Adriana Calabró é paulistana nascida na Av. Paulista, fala “meu”, gosta de feira, de parque e de Liberdade.
Agradecimento especial à Elaine Vilela e à página Paixões Paulistanas, que gentilmente postou esse texto na sua timeline.